SÃO PAULO - Condenado no ano passado a 278 anos de prisão pelo estupro sistemático de suas pacientes, o médico Roger Abdelmassih, que está foragido da Justiça, também enganava os pacientes de sua renomada clínica de reprodução assistida implantando embriões fertilizados de outros casais no útero das futuras mães. De acordo com reportagem da edição desta semana da revista "Época", tais práticas foram identificadas em investigações sigilosas conduzidas nos últimos dois anos pelo Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Civil, e comprovadas pelo resultado de exames de DNA feitos em pacientes da clínica e em seus filhos.
Ou seja, parte dos cerca de 8.000 bebês gerados na clínica de Abdelmassih não são filhos biológicos de seus país, que pagaram um bom dinheiro ao médico para tê-los. De acordo com a reportagem de "Época", pelo menos três casais — um de São Paulo, um do Rio e outro do Espíto Santo — já teriam realizado o exame e constatado que o DNA de um dos dois não é compatível com o do filho. No depoimento ao MP, a que a revista teve acesso, um dos casais, que não quis se identificar, conta ter procurado a clínica de Abdelmassih em 1993.
Suspeitavam da infertilidade do marido, que não foi confirmada por exames, mas assim mesmo o médico teria recomendado a fertilização in vitro, por ser mais rápida. Eles aceitaram e os embriões implantados na mulher. Desconfiado, numa das consultas o marido disse que faria um exame de DNA, declaração que deixou o médico alterado a ponto de expulsá-los da sala. Na consulta seguinte, relataram, Abdelmassih teria recomendado à mulher que tomasse dois comprimidos entregues num envelope. Eram abortivos, que não tiveram efeito porque a mulher,depois de passar mal, não tomou a segundo pílula.
Depois que os gêmeos do casal nasceram, um exame de DNA mostrou que eles eram filhos biológicos apenas da mãe. O casal procurou um advogado e para não enfrentar uma ação judicial, o médico teria concordado em pagar ao casal R$ 600 mil. Em troca, eles assinaram um termo, com data retroativa, autorizando o uso de esperma de terceiros na fertilização de embrião. Depois o casal se separou, e os filhos foram criados pelo pai, pois a mãe não teria se recuperado do trauma.
Para o MP, o depoimento do casal deixa a suspeita de que Abdelmassih possa ter repetido tal prática por cerca de vinte anos. O que explicaria, segundo a revista, a elevada taxa de sucesso nas fertilizações assistidas da sua clínica. A reportagem traz ainda entrevista com o engenheiro químico Paulo Henrique Ferraz Bastos, ex-colaborador de Abdelmassih, que fala do envolvimento de um casal de biólogos russos em procedimentos de manipulação genética na clínica. Para ele, é impossível garantir que as crianças geradas na clínica de Abdelmassih sejam filhos biológicos de seus país.
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